AS
CONFISSÕES DE SCHMIDT / ABOUT SCHMIDT
EUA / 2002 / DUR: 125’
Dir: Alexander Payne
Elenco: Jack Nicholson, Kathy Bates, Hope Davis, Dermot Mulroney.
“O que vou dizer quando parar, olhar para trás e perguntar: Que diferença eu fiz? O que fiz na vida de alguém? O mundo está melhor por minha causa”?
Essas são as perguntas que Warren Schmidt, um recém- aposentado de 66 anos faz a si próprio durante a sua trajetória de vida que passamos a acompanhar em suas confissões que nada mais são do que cartas redigidas a um garoto de 6 anos da Tanzânia por ele adotado com uma ajuda mensal de vinte e dois dólares a uma ONG.
Conhecemos melhor nosso protagonista na cena inicial em que está sentado próximo a uma mesa vazia de escritório e acompanha pacientemente os últimos minutos e segundos que o aproximam da aposentadoria. É um sujeito calmo, pacato e pacífico, - a exata antítese de tantos personagens magistralmente interpretados por Jack Nicholson em seu estilo histriônico e compulsivo de interpretação. Aqui ele é contido na fala e nos gestos, em um papel que lhe deu mais uma indicação ao Oscar (é a ator com maior número de indicações: doze) e a conquista do Globo de Ouro de melhor ator.
Warren é o americano médio e típico pertencente a uma época em que o sucesso profissional era manter-se no mesmo emprego por mais de trinta anos. Sim, essa fase do capitalismo existiu no século passado! Aos poucos, conhecemos sua vida: ele respeita a esposa mas se pergunta quem é ela depois de quarenta e dois anos de casados e que o irrita em tudo que faz, sua única filha reside longe e está prestes a se casar com um sujeito “abaixo dela”, tem a dificuldade em se adaptar à vida de aposentado e a raiva em constatar que seu substituto na empresa de seguros é um sujeito incapaz.
Todos estes sentimentos explodem, quando repentinamente, ele passa também a conviver com a viuvez: do distanciamento surge a saudade, a valorização e o respeito, a decepção e a ira seguido do perdão redentor em um belo plano noturno com Schmidt sentado no teto do trailer comprado pela mulher. A partida da esposa o aproxima de um humanismo que ele próprio desconhecia possuir. É nesse momento que ele inicia um road movie a lugares marcantes em sua vida: a casa onde nasceu e viveu a primeira infância e que hoje é uma loja de pneus, a Universidade onde na juventude ele sonhou em ser um dia capa de uma revista de negócios. Após um incidente com um casal solicito e atencioso “além da conta” Schmidt chega à casa da futura sogra da filha (Kathy Bates em mais uma grande atuação).
Após vários momentos engraçados (a cena do colchão d’água e do ensaio do casamento são hilárias), temos o casamento e o retorno à casa. Entretanto, Schmidt retorna muito diferente de quando partiu. A carta resposta de seu “filho adotivo” de seis anos escrita por uma irmã cristã o leva às lágrimas e à compreensão da diferença que ele fez e faz na vida de alguém. A interpretação de Nicholson apenas neste nesse momento já vale o ingresso!
As confissões de Schmidt é o relato singelo de um homem
comum, de alguém que demorou muito tempo para conhecer a si próprio. Só isto já
daria um bom roteiro (que é melhor que o livro homônimo), mas, temos Jack
Nicholson sempre em brilhante atuação e Kathy Bates que com apenas quinze
minutos de interpretação recebeu indicação a melhor atriz coadjuvante.
Acompanhar a vida de um homem refletindo sobre o
significado e sentido de uma existência é um tema que transcende nossa
existência.