A DANÇA DOS VAMPIROS
THE FEARLESS VAMPIRE
KILLERS / A DANÇA DOS VAMPIROS
Produção: EUA / Inglaterra / 1967
Direção: Romana Polanski
Elenco: Roman Polanski,
Jack MacGowran, Sharon Tate
Duração: 108 min.
Sinopse: Abronsius (Jack MacGowran) é um professor universitário
especialista em vampiros que decide ir até a Transilvânia, no coração da Europa
Central, acompanhado de seu fiel discípulo Alfred (Roman Polanski), que
infelizmente é bem medroso. Abronsius tem como objetivo aprender sobre vampiros
e combatê-los, se possível, mas os fatos tomam um rumo inesperado.
Por
volta do final dos 70 e início dos 80 fui apresentado a um filme que mudou
minha concepção a respeito dos filmes de terror, talvez pela primeira vez em
minha vida me deparei em uma obra artística com aquilo que chamamos de paródia. O filme A dança dos Vampiros era muito elogiado pela crítica, mas eu
imaginava se tratar de um filme com muitos sustos. Mas logo percebi que estava
diante de algo diferente e, o que poderia ser um insulto para um garoto
fanático pelo gênero terror,
acabou representando para mim uma grande e agradável surpresa.
Só depois li e conheci melhor o trabalho de Polanski, mas
ainda hoje acho estranho que um realizador soturno como ele, um sujeito que
criou O bebê de Rosemary e Repulsa ao
sexo, tenha concebido uma comédia, e o pior, que talvez tenha aberto mão de
um grande talento como comediante para ficar apenas atrás das câmeras, afinal,
como ignorar e deixar de rir com a careta irresistível protagonizada por
Polanski na cena em que pelo buraco da fechadura, o atabalhoado Alfred vê
estarrecido ao invés da estonteante Sharon Tate, o olhar raivoso e cheio de
sangue escorrendo do conde Drácula em pessoa?
Tudo
funciona neste filme:
atores, direção, trilha sonora, direção de arte. Na abertura, uma gota de
sangue escorre pelo letreiro do elenco e produção, e a trilha sonora segue em
uma mesma batida transmitindo a falsa sensação que em breve estaremos diante de
uma sucessão de cenas aterrorizantes, mas assim que finda a apresentação somos
agraciados com uma cena em primeiro plano da imensidão de montes de neve que
contrastam com o vermelho, fruto de desejo dos vampiros. Logo somos
apresentados aos personagens: o Dr. Ambrosius, especialista em vampiros, mas
que é ridicularizado pelo meio acadêmico em que atuava, e seu fiel escudeiro, o
auxiliar Alfred (interpretado por Polanski). Ao vermos o Dr. congelado e
ridiculamente levado para ser aquecido em uma taverna, percebemos com mais
clareza que não estamos diante de um filme de horror clássico e tradicional,
mas sim diante de uma enorme e divertida gozação ao gênero. Dr. Ambrosius é um
personagem quixotesco com sua crença em vampiros e Alfred seria a encarnação de
Sancho Pança, mas com seu medo excessivo e sua paixão pela “garota do conde”
acaba também por perder seu senso de razão nos levando a acompanhar com um
sorriso permanente no rosto suas enormes trapalhadas ao longo de todo o filme.
Os personagens coadjuvantes como a taverneiro e sua esposa também são
grotescos, feios e bizarros. O ridículo está sempre
presente, como característica daquilo que deve se enquadrar o filme: a paródia.
Acredito que Polanski tenha idealizado seu filme como uma
grande história em quadrinhos, tive a sensação em vários momentos de estar
diante de personagens de um desenho e não de um filme,- os cenários, a natureza
inóspita, o castelo e a taverna facilitam esta visão. Em outra leitura, observo
uma homenagem aos filmes do cinema mudo, às comédias clássicas como as de
Chaplin, por exemplo, com o predomínio da pantomima. Tal como aquelas
produções, os diálogos são o que menos importa em A dança dos Vampiros. Há uma cena em particular que lembra Tempos Modernos, onde o personagem do
Dr. Ambrosius fica entalado em uma janela que dava entrada à cripta onde estão
os vampiros, tal como o personagem de Chaplin que vê seu encarregado também
entalado nas engrenagens de uma maquina, Alfred demora séculos até tirar o Dr.
daquela incômoda e perigosa situação.
Assisti a Dança dos
Vampiros em vários momentos de minha vida: na infância, na adolescência, na
juventude e na minha maturidade, é claro que em cada uma destas exibições
observei algo diferente. Na infância, o humor que se volta ao cinema mudo
predominava. Na adolescência, a temática voltada à sexualidade passa a ser o
eixo. Como ignorar, no início dos anos 80 o vampiro homossexual em uma época
ainda conservadora e muito distante das atuais Paradas Gays? E neste aspecto é
muito interessante observar o contexto em que o filme foi produzido: 1967.
Contracultura predominando: luta pelos direitos civis nos EUA, Power Flower,
protestos contra a guerra do Vietnã e às vésperas do maio de 68 com o movimento
estudantil querendo inverter toda a ordem e forma de poder e, é claro o
Woodstook de 69. Ou seja, em uma época em que todas as instituições estavam
sendo ridicularizadas.
Polanski com seu talento não poderia produzir um filme clássico e conservador a
respeito de vampiros. Assim, nosso vampiro gay está muito longe de ser um nobre
da Transilvânia ou outra esquecida região do Leste Europeu, estamos isto sim,
muito provavelmente diante de um jovem de San Francisco exercitando as várias
facetas de sua sexualidade e consumindo drogas.
O filme não é apenas famoso por Polanski, na verdade mais
famoso que ele é a presença de sua ex-mulher, a maravilhosa Sharon Tate, que
teve sua beleza relegada a segundo plano devido sua morte estranha, violenta e
trágica. Sua
presença neste filme representou uma guinada em minhas concepções a cerca
daquilo que eu procurava em um filme de horror. O tema do vampirismo sempre
teve uma alta dosagem de sensualidade e erotismo, mas para um garoto, as
mulheres seminuas que apareciam nos filmes da Hammer eram meras coadjuvantes,
estávamos muito mais interessados no Conde Drácula e sua mordida. Mas, quando adolescente vi Sharon Tate
pedindo permissão a Polanski para tomar banho em seu banheiro, com seus seios
subindo e descendo de hesitação, percebi pela primeira vez que mulheres ruivas,
seios e
bocas,
passavam a representar muito mais que o olhar hipnótico de um homem que se
travestia de vampiro. Depois disso, os filmes de terror nunca mais foram os
mesmos.
Em A dança dos Vampiros,
a
vida deve ser vista como uma grande paródia onde a realidade não deve ser
levada tão a sério para que, se não pudermos ser felizes como gostaríamos,
possamos então, ser menos infelizes. Bela diversão!
Adoro esse tema! Eu sempre fui fascinado pela mitologia sobre os vampiros ❤️ Há alguns dias eu vi um filme sobre isso chamado Anjos da Noite Legendado Se você é um fã de vampiros, este filme será um dos seus favoritos e você vai querer vê-lo novamente! Poucos seres fantásticos são tão interessantes quanto os vampiros, estes são seres sedutores e misteriosos.
ResponderExcluirAqui o mais bacana é a brincadeira que ele faz com o tema vampirismo. Grato pela leitura!
ExcluirNada, uma palavra sobre a belíssima trilha sonora? Que tipo de resenha é esta? Da época do cinema mudo?
ResponderExcluirTem razão amigo. A trilha merece destaque, também é envolvente e marcante.
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